Coração de chuva

Estávamos em Setembro

Num ano que não me lembro

O dia nem sei qual era

Mas me recordo das flores

Do esplendor de suas cores

Devia ser Primavera.

A chuva caía fina

Molhando toda a colina

Trazendo vida ao lugar

O Sol às vezes surgia

Mas a chuva insistia

Tão logo não ia parar.

A água cai lentamente,

Batendo na calha suavemente

Fazendo som de panela

Transformando seco em molhado

Regando o chão estiado

Com cheirinho de canela.

Meu coração batia forte a cada foco do sol

Num céu cinzento com cara cimento

Até uma andorinha ficava no alento

A água que escorre pela árvore

Cai no ninho de uma pequena ave

Molhando toda sua plumagem

Mas com ainda todo seu encanto

No seio do aconchego

Aquece toda a sua linhagem.

De dentro da minha casa eu conto os pingos

Da chuva fina que cai lá de fora

Sinto no rosto, quente, os respingos,

Como se fora o temporal que chora.

As gotas escorrem como choro no orvalho

Deixando no vidro caminhos e atalhos

E num deitar da chuva submergi

Tentei com o sol falar

Mas o vidro teimou em embaçar

Numa cena que nunca vi

Contemplando a cena bela

Debrucei-me na janela

E num cochilo sonhei

Viajei pelas estrelas

Poderia até descrevê-las

Naquele momento fui rei

Conheci planetas mil

Galáxias ensolaradas que nunca se viu

descobri o motivo da chuva em nossa vida

Acordei com o coração transbordando de alegria

corri para o quintal

E vi que ainda chovia.

As gotas são pequenas mensagens do céu,

Gotas caídas das nuvens, dos livros de Deus

São lidas e rescritas em poemas teus e meus,

Deixa as gotas te alcançar,

tire esse chapéu.