Rio do amor passado
No fundo do rio,
ao pé da montanha,
em águas calmas e serenas,
uma pedra lascada,
cheia de arestas,
em solene descanso,
acumulando limo:
assim era eu, antes de ti.
Vieste como uma enchente
violenta, inesperada,
sem prenúncio de tempestade,
sem relâmpago ou trovoada,
lançando-me contra outras pedras
num bate-rebate infindo.
Eu me debati no torvelinho,
num desalinho de idéias,
queimando na água,
perdendo partes,
desmanchando-me em cascalho,
em meio a águas revoltas.
Agora tudo voltou aos eixos:
o rio corre manso para o mar;
e sou apenas um pequeno seixo
rolando ao sabor de suaves marolas.
O rio não é mais o mesmo ―
teu louco turbilhão
são apenas águas passadas.