Rio do amor passado

No fundo do rio,

ao pé da montanha,

em águas calmas e serenas,

uma pedra lascada,

cheia de arestas,

em solene descanso,

acumulando limo:

assim era eu, antes de ti.

Vieste como uma enchente

violenta, inesperada,

sem prenúncio de tempestade,

sem relâmpago ou trovoada,

lançando-me contra outras pedras

num bate-rebate infindo.

Eu me debati no torvelinho,

num desalinho de idéias,

queimando na água,

perdendo partes,

desmanchando-me em cascalho,

em meio a águas revoltas.

Agora tudo voltou aos eixos:

o rio corre manso para o mar;

e sou apenas um pequeno seixo

rolando ao sabor de suaves marolas.

O rio não é mais o mesmo ―

teu louco turbilhão

são apenas águas passadas.

Marcelo Grillo
Enviado por Marcelo Grillo em 09/01/2007
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