SEDAÇÃO - POEMA 95
O FADO CANTA AO LONGE , PARA AS PEDRAS.
ELAS RECORDAM DE TI, NUMA ERA DISTANTE.
TEMPO DO NOSSO DESCOBRIMENTO.
NA MÚSICA EMOLIENTE, NUM QUÊ DE ADSTRIGENTE...
A MORTE ENFEITA-SE, MUSA AMADA.
ABRE OS BRAÇOS DELICADA PARA OS LIVROS
NO MAR AMADO....VELAS TE IÇAM.
DESTRUISTES O CÉU EM MIL VERSOS PERDIDOS.
COLAMOS OS LIRIOS.
NÃO SE DESESPEREM, OS QUE APARENTEMENTE RESTARAM
OS QUE AQUI NA TERRA , SEDADOS, FICARAM.
ATADOS AO ESMO, AO BOJADOR.
GAIVOTAS E GUITARRAS BAILAM.
BUSCAM A IRONIA PARA CONSTRUIREM SEUS CASTELOS.
NÃO VEEM QUE PROXIMO DA MELANCOLIA.....
HÁ UM FAROL SUBMERSO LÁ NO FUNDO DO MAR
A ILUMINAR NOSSAS ALMAS .
A ESPERAR POR TI. E POR MIM.
A COLORIR O NOSSO MAR.
ILUSÃO VERDE QUE SOPRA TODOS OS SONHOS.
DOURA A BANALIDADE, FALSAMENTE.
NESTE AZUL DA NOITE...
SUMIU DE REPENTE, TODO O SAL DA MINHA ALMA
NÃO HÁ BARCOS, ANCORAS, MARINHEIROS
CALADOS ESTÃO OS MESTRES.
HÁ MUITO TEMPO NÃO TIRO UMA FOTOGRAFIA INTERNA..
HÁ MUITO TEMPO ESQUECI QUEM SOU...
PEÇO A MIM MESMO E A TI QUE NÃO ME LEMBRE
A BUSSOLA NAVEGA NUMA POESIA.
ESPÉCIE DE DRAMA QUE PERMEIA A NOSSA PELE.
SEDA-NOS. ENTORPECE-NOS.
FAZ SOBRAR O TETO DO CÉU, COMBALIDO.
O DESPERDICIO DE TODOS OS TESOUROS.....
RONDANDO QUEM REALMENTE SOMOS.
DOBRAND0-NOS, A CURVATURA DOS RÉUS.
HÁ MUITO TEMPO NÃO QUERO SER EU.
ANDO NUM DESCONTENTAMENTO DE UMA VELHA NAU.
NOS POROS SURDOS E PORÕES VELHOS QUE HABITO-ME.
UMA SERPENTE MARINHA EMUSLFICA O SENTIDO DA VIDA.
FABRICA O VENENO QUE DESPRENDEMOS PARA SERMOS....
TODOS OS CORAIS QUE ABRIGAM AS ILUSÕES DA VIDA.
QUAL MAR FICOU COM OS MEUS AMORES?
PROXIMO, AS DOCES PROSTITUTAS, AS CORDAS, AS POESIAS.
ESPREITAM A VIDA QUE COM ELAS , NADA DESEJA.
PASSAROS TENTAM VIRAR FOTOGRAFIAS. ETERNIZAREM-SE.
SEQUER OS PASSAROS CONSEGUEM ENQUADRAR-SE NO FOCO.
UMA LEI INSTALA-SE NAS LINHAS DO CÉU;
HÁ UM PORTO SEM MAR. UM MAR SEM BARCO.
HÁ UM OLHAR QUE ENFAIXA O MUNDO DOENTE.
DAMOS COMPRIMIDOS PARA A NOSSA DOR DE ALMA.
MAS NADA MAIS ADIANTA....
CALADOS ESTÃO TAMBÉM OS NOSSOS MESTRES...
O UNIVERSO SEGUE IGNORANDO A SEDAÇÃO DAS PESSOAS.
OS PROCESSOS ACUMULAM-SE NOS MEUS VERSOS PERDIDOS.
ENQUANTO EU BUSCO A ORIGEM DO MUNDO.
ENQUANTO O FADO ENROLA-SE NA GARGANTA MUDA.
PORTUGAL PROCURA-ME.
PORQUE ISSO , AGORA , PERGUNTO AOS VENTOS DE MAIO.
DE GRITAR PELO VAZIO DAS COISAS.
PELO O EMUDECIMENTO DA AURORA.
LÁ FORA, TUDO SE TRANSFORMA....
OS VERMES VIRAM COMETAS....
O MUNDO COMEÇOU-SE POR PEQUENAS COISAS.
QUE HÁ MUITO FIZERAM AS MALAS.
HÁ POUCO DEIXARAM A SALA.
HÁ POUCO DEIXARAM TODAS AS PAREDES VAZIAS.
DOS MARES QUE ANTES TRADUZIAM-NOS AS PORTAS.
NENHUM MAR ME FICOU.
AMEI O MAR QUE SECOU EM UM QUADRO DA PAREDE.
ANTES, TUDO ERA DECIFRADO-ME PELOS SENTIMENTOS.
AGORA, VEJO A LUA ESQUECIDA, SEDADA, SEM ASAS.
JÁ NÃO PARECE MAIS SER CRIAÇÃO DE DEUS,
EM MEIO AS EMBARCAÇÕES, SEQUER A TUA FACE.
SOMENTE OS RATOS ME SÃO COMPANHIA...
APESAR DE TEREM TODOS AS FEIÇÕES HUMANAS...
DISPUTAM COMIGO A PRIMAZIA DO ULTIMO OLHAR DIVINO.
PARA EMERGENCIA, HÁ QUE SE GUARDAR OS RISOS.
COMO TODOS OS DIAS, TEMOS QUE SEGUIR A ILUSÃO.
NAS ÁGUAS QUE MARGEIAM O MEU SILENCIO
TODO ESSE PORTO IMENSO DO NOSSO SOFRIMENTO....
NÃO CABE EM MAR ALGUM.....
NELE, HÁ UMA ESPIRAL COM DENTES
DESEJANDO NOVOS CORPOS E FISIONOMIAS...
EU OFEREÇO A TUA E A MINHA....
PARA ASSIM ACALMAR A SOLIDÃO DO NOVO MAR.
FILHOS E FILHAS MORTAS DE DEUS, SEDADAS.
ATÉ O DIA FINAL.
NÃO SE DESESPEREM, MESMO
OS QUE APARENTEMENTE RESTARAM E SOBRARAM
OS QUE AQUI NATERRA , FICARAM....
HÁ MESMO UM FAROL SUBMERSO LÁ NO FUNDO DO MAR
A ILUMINAR NOSSAS ALMAS .
A ESPERAR POR TI. E POR TODOS NOS.
MAURICIO DE AZEVEDO
METEMPSICOSES - A ALMA DE FERNANDO PESSOA 95/120