Eutanásia

Eutanásia

Quando o tempo me houver trazido êsse momento,

Do dormir, sem sonhar que, extremo, nos invade,

Em meu leito de morte ondule, Esquecimento,

De teu sutil adejo a langue suavidade!

Não quero ver ninguém ao pé de mim carpindo,

Herdeiros, espreitando o meu supremo anseio;

Mulher, que, por decôro, a coma desparzindo,

Sinta ou finja que a dor lhe estará rasgando o seio.

Desejo ir em silêncio ao fúnebre jazigo,

Sem luto oficial, sem préstito faustoso.

Receio a placidez quebrar de um peito amigo,

Ou furtar-lhe, sequer, um breve espaço ao gôzo.

Só amor logrará (se nobre à dor se esquive,

E consiga, no lance, inúteis ais calar),

No que se vai finar, na que lhe sobrevive,

Pela vez derradeira, o seu poder mostrar.

Feliz se essas feições, gentis, sempre serenas,

Contemplasse, até vir a triste despedida!

Esquecendo, talvez, as infligidas penas,

Pudera a própria Dor sorrir-te, alma querida.

Ah! Se o alento vital se nos afrouxa, inerte,

A mulher para nós contrai o coração!

Iludem-nos na vida as lágrimas, que verte,

E agravam ao que expira a mágoa e enervação.

Praz-me que a sós me fira o golpe inevitável,

Sem que me siga adeus, ou ai desolador.

Muita vida há ceifado a morte inexorável

Com fugaz sofrimento, ou sem nenhuma dor.

Morrer! Alhures ir... Aonde? Ao paradeiro

Para o qual tudo foi e onde tudo irá ter!

Ser, outra vez, o nada; o que já fui, primeiro

Que abrolhasse à existência e ao vivo padecer!...

Contadas do viver as horas de ventura

E as que, isentas da dor, do mundo hajam corrido,

Em qualquer condição, a humana criatura

Dirá: "Melhor me fôra o nunca haver nascido!"

Lord Byron

Poeta Dom Casmurro
Enviado por Poeta Dom Casmurro em 05/02/2012
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