Quando o Sol em Nós se Apaga

De repente, o sol se apaga,

a lua some da janela das retinas.

Nenhum astro sobrevive

ao colapso da luz.

Não há mais consciência da rosa,

pôr-do-sol ou arco-íris.

O que em nós se desvanece

fica apenas nas molduras

ou perdido na memória

dos que, um dia, nos viveram.

Nem o beijo mais febril

deixa o gosto do que fomos.

Nem o gozo da ternura

que luziu em nosso olhos

se reflete nos espelhos

quando o sol em nós se apaga.

Tudo finda no que morre

qual se nada tenha sido.

De repente, do que fomos,

resta apenas a presença

de efêmera ausência,

um retrato na lembrança

que o tempo decompõe.

E, nem mesmo, no amor,

em que deixamos digitais,

qualquer marca permanece

pois ninguém pode nos ver

quando em nós o sol se apaga.

É preciso expor-se a vida

enquanto há luz em nossos olhos,

enquanto a carne ainda goza

enquanto os ossos sentem dor.

É preciso correr riscos

de morrer em vida plena

que seguir vivendo à toa

sem saber que já morremos...

Devemos ser como as estrelas

que só morrem porque brilham

com total intensidade.