Náufrago das tuas águas
Tu és a minha barca,
que o mar leva para longe.
Eu fico aqui do porto,
Vendo-te caminhar nas águas.
Se uma onda te traz,
outra logo te recolhe.
Talvez sejas o próprio mar;
e eu, as ondas.
Sopras e eu vou,
puxas e eu volto.
Jogas-me mansamente na praia,
às vezes me lanças ao rochedo:
ou descanso placidamente,
ou de todo me arrebento.
Vivo assim,
ao sabor dos teus desejos.
Sou apenas uma nau,
cansada de guerra,
sem moto-próprio,
náufrago das tuas águas.
Vivo à deriva:
não sei nadar,
não há barco salva-vidas
e não tenho a quem pedir socorro.