Fechado por deslizamento.
Esta sala de espera sem esperança
Estas pilhas de uma campainha que se seco
Este sorvete de morango da vingança
Esta empresa de mudanças
Com os moveis do amor.
Este sino mudo no campanário
Esta metade partida pela metade
Estes beijos de Judas, este calvário
Este look de presidiário
Esta cura de humildade.
Esta mudança de calçada de tuas cadeiras
Esta vontade de nada menos de ti
Este subúrbio sem grilos em primavera,
Nem costas com cremalheira
Nem anéis de presumir.
Esta casinha de boneca de alternar
Este cacho de pétalas de sal
Este furacão sem olho que o governe
Esta quinta, esta sexta e a quarta que vira.
Este museu de arcanjos dessecados
Este cachorro andaluz sem domesticar
Este trono de príncipes destronados
Esta espinha de pescado
Esta ruína de Dom Juan.
Esta lágrima de homem das cavernas
Esta forma de sapato de Barba Azul
Que pouco tempo dura a vida eterna
Pelo túnel das tuas pernas
Entre São Paulo e o sul.
Esta guitarra cínica e dolorida
Com seu teimoso Knock Knockin'on heaven's door
Estes lábios com sabor de despedida
A vinagre nas feridas,
A lenços de estação.
Este Land Rover estacionado nas tuas duvidas
O tear de Penélope em algum parque
Estes dedos que sonham que te desnudam
Esta caracola viuva
Sem a pianola do mar.
Não abuses da minha inspiração
Não acuses ao meu coração
Tão maltratado e estragado
Que esta fechado por deslizamento
Pelas rugas da minha voz
Se filtra a desolação
De saber que estes são
Os últimos versos que te escrevo.
Para dizer "com Deus" a nós dois
Nos sobram os motivos.