Exaurir

O ar pesado adentra os pulmões.

E lhe imploro por um beijo, mas apenas o gosto seco do vazio preenche os lábios.

E não me contento com o pouco.

As horas passam.

Ainda permaneço no mesmo caminho, seguindo os trilhos, perseguindo a locomotiva, daquele jeito obscuro, contando passos e camuflando a dor.

É que não sei mesmo viver de mentiras. Então ensaio na carta um desabafo... Só ensaio, porque não há como expressar em palavras a dor.

E criei um jeito todo meu de sobrevier a isso: guardei comigo as palavras; desmontei as verdades; e preguei no rosto um sorriso, escancarado de orelha a orelha.

A cor da tua voz permanece tatuada em minha cabeça, e já nem preciso mais fechar os olhos para ouvi-la.

É que tenho me concentrado pouco ultimamente.

E não se preocupe, porque tudo permanece exatamente no mesmo lugar. Até eu! A única mudança é que já não espero mais pelo teu retorno. A sala grande e vazia, de moveis grandes e vazios, com aquele cheiro doce e vazio, preserva meu eu estático e sozinho.

Tá mesmo difícil manter o foco.

É que a felicidade não veio hoje, então me propus a escrever algo menos quente. Mas nada de palavras amargas, porque não é o desamor, também não é a verdade absoluta, é apenas meu hoje.

Apavorado continuo pelos trilhos, contando passos.

Um sol forte se esconde atrás da lua. É meio dia, e a luz, tímida e ofuscada, vela o caminho que agora é só meu.

E desconstruo verdades solidas e construídas.

Onde está o erro?

Novos passos e a luz, ainda opaca, intrínseca e insossa, conserva a dor.

Apenas continuo nos trilhos, por medo de desviar e me perder no caminho.

É que não sei todas as repostas.

Ainda estou nos trilhos.

Hudson Eygo
Enviado por Hudson Eygo em 02/03/2012
Código do texto: T3531841