SOULMATES (ALMAS GÊMEAS)
SOULMATES I (2006)
Eu acredito, eu sei, que lá no outrora,
Antes sequer que nossos pais nascessem,
Eu te encontrei, tu me encontraste, embora
Nossos destinos a nós não pertencessem.
Não foi escolha nossa que cortassem
Os deuses uma alma feita em duas:
Que de tal modo então nos castigassem
Que as almas reviver tivessem nuas,
Sangrando de incompletas, se buscando,
Sempre se unindo, sempre separando,
Pela ânsia tão só de pertencer...
Duas almas companheiras se tocando
De leve só, depois se abandonando,
Porque seus corpos tinham de morrer...
SOULMATES II (5 DEZ 11)
Eu acredito, eu sei que esse mistério
É dentro dos conundros desta raça
Um dos mais simples, em sua estranha graça,
Mas deveria ser levado mais a sério.
Na verdade, muitos acham despautério
A história de Platão e andam à caça
De significados ocultos nessa jaça,
Buscando em vão achar nela refrigério.
Porque, de fato, ancestrais imaginar
Iguais a bolas, com quatro braços e pernas,
Não encontra apoio na paleontologia...
Mas ficar tais criaturas a buscar
Só nos conduz a tolices mais eternas
Que a simples crença na mitologia...
SOULMATES III
Pois de fato, referia-se Platão,
Ao mencionar as metades separadas,
Não a corpos, mas a almas retalhadas,
Por sua vaidade e por sua pretensão,
A quem os deuses deram justa punição:
Pelos olímpicos foram esbulhadas,
Suas mais belas ilusões foram cortadas,
Rasgado o engenho, talhada sua paixão!...
Assim ficaram, de fato, destituídos
Os ancestrais, mas Dionyso teve pena
E nos concede nova inspiração...
Deuses da terra simpatizam com vencidos
E as musas nos fecundam com verbena,
Em mil pétalas douradas de emoção...
SOULMATES IV
Mas, sem dúvida, nossa mente é imperfeita,
Foi aleijada a real inspiração,
Mas quando encontra sua metade, em ocasião,
Perante o brilho seu se faz sujeita
E mesmo quando a outra metade não aceita
Participar fisicamente de uma união,
Fecunda ainda as notas da canção,
Que em ondas flui, benigna e escorreita.
É assim comigo, para meu castigo:
Se faço versos, é por pensar em ti
E nada brota sem a tua presença...
E em meu castigo por não estar contigo,
Nestes momentos eu me encontro aqui,
Tangendo as cordas da memória tensa...