DO AMOR AO ÓDIO

Quando olhei seu lindo rosto pela primeira vez, seus olhos, cabelos, sorriso, senti algo estranho como nunca senti. Algo que mexeu comigo, me incomodou como nunca aconteceu.

Seu olhar, seu jeito dócil de ser, sua educação refinada, sua inteligência, suas brincadeiras... Tudo em você chamou minha atenção de uma forma muito especial.

Fui me aproximando de você, tornando seu amigo e o sentimento de amizade diferenciava cada dia.

Não mais conseguia te ver sem ficar nervoso; sua presença me encabulava, me deixava bobo, sem jeito, mas ao mesmo tempo feliz.

Quando você chegava inesperadamente, sentia uma quentura que subia desde os pés, até a espinha dorsal, controlando todo o corpo, me deixando trêmulo e meu rosto pegava fogo.

Já conhecia teu cheiro de longe que quando sentia, me derretia, enlouquecia numa insaciável sede de você.

Não dava para negar, era paixão. Uma louca paixão!!

Desejo incontrolável por você! Seu cheiro, despertava minha alma adormecida.

Sua voz era música mais bela e suave que já ouvira, como couro de anjos numa apresentação especial ao Criador.

Seu toque, meu Deus, não tinha nem como explicar.

Percebi que o sentimento estava sendo recíproco. Realmente você estava sendo um presente de Deus em minha vida! Que presente!!

Houve uma maior aproximação, então nos olhamos, conversamos, passeamos, nos tocamos, nos abraçamos, nos beijamos...

Agora eu já não estava mais com os pés no chão; estava em órbita. Andava como em nuvens de algodão e ao dormir, meu corpo parecia levitar, quando você chegava, pairava no ar.

Senti que seus desejos por mim também eram muito fortes. Começamos a namorar.

Sentia tão seguro com você. Sua presença me agradava tanto...

Você era suficiente para mim em tudo. Não mais precisava de nada, sua presença bastava em minha vida. Já estava te amando muito. Loucamente apaixonado. Que amor gostoso!!!

Nossos passeios eram mágicos! Queria ter um desejo na vida; de parar o tempo quando estivesse ao seu lado, nos seus braços.

Mas além de todo este sentimento, sentia algo estranho. Sim, algo inexplicável. Não gostava de sentir aquilo. Não era bom!

Quando estávamos juntos, minha felicidade era plena, meu amor era genuíno. Tudo o que eu fizesse por você e para você, nunca era suficiente; sempre queria fazer mais e mais para te agradar, te surpreender, te fazer novas surpresas.

Mas quando nos despedíamos, aquela incomodação me perturbava.

Eu te amava como nunca amei ninguém!

Meu corpo era seu, minha mente era sua, meus pensamentos eram todos seus, minha memória, só para você, a saudade que sentia era só de você, meu tempo queria estar somente ao seu lado, meu celular, só tinha ligações suas, meus programas só tinham você. Minha vida era sua! Meu corpo era seu! Minha alma era sua! Respirava você e só por você...

Quando juntos, nos amávamos loucamente, dedicava-me, entregava-me a você como um riacho deságua e se entrega ao mar.

Mas longe de você, novamente aquele maldito e esquisito sentimento me acompanhava mente e coração. Não queria sentir, mas era mais forte que eu. Tentava até me distrair, mas era inevitável ignorar; ele vinha como se quisesse me dizer algo e na verdade, queria mesmo...

Foi quando decidi que, sentindo aquela acomodação, que era mais uma amargura, dor no coração, eu iria te procurar.

Não aguentando, te liguei e disse que novamente eu sentia aquela mágoa estranha e você, sempre com palavras de incentivos dizendo que estava sempre comigo.

Suas palavras me alegravam sim, me apoiavam e me tranquilizavam um pouco, mas não eram suficientes para acabar com aquela dor que latejava no meu interior, batendo em meu coração como um sino altissonante.

Certa vez, longe de você, aquela situação indesejada aumentava em mim e cada vez que pensasse em você, aumentava, aumentava e aumentava...

Sentia vontade de deixar tudo o que estava fazendo para ir ao seu encontro, mas desta vez, senti o desejo de te visitar em segredo. Sim, deixar trabalho, obrigações e ir ao seu encontro sem nenhuma comunicação. Tive a forte impressão que isso iria me ajudar e assim, foi o que fiz.

Por que fiz isso? Doeu muito mais...

Uma espada entrou em mim, arrancou meu coração e pisoteou minha alma.

Por que fui te visitar em segredo? Por quê?

Mas desvendei o mistério daquela total insatisfação e desconforto emocional e sentimental longe de ti.

Ao te visitar em segredo, descobri que você me traía...

Meu chão me foi tirado!

Agora não mais levitava, ao contrário, caía num precipício como um fardo de chumbo que me puxava para baixo, sem nada para agarrar.

Que dor! Que dor! Que dor...

Sei que ninguém é obrigado a ficar com ninguém, mas...

E as juras de amor?

Para que tantas mentiras?

Para que dizer que eu era todo seu, que não tinha olhos para ninguém e seu corpo, misturava-se com outro em minha ausência. Por quê?

Doeu muito! Muito mesmo!

Te perdoei porque te amava de verdade!

Novamente...

Brigas, mágoas, volta...

Te perdoei...

Brigas, mágoas, volta...

Te perdoei...

Te perdoei...

Te perdoei...

Cada vez, um desconhecido qualquer que você procurava, despertava seu libido e atormentava minha vida.

Vocês riram de mim pelas costas. Você dizia que me amava tanto e ria de mim com o desconhecido que deixava cheiro estranho em seu corpo.

Isso estraçalhou minha alma como um lobo faminto rasga a carne de sua presa com voracidade e veemência e sem nenhuma dor de consciência.

O sonho acabou. Acordei.

O encantamento passou.

A hipnose perdeu suas forças...

Acordei para um mundo frio, mentiroso, sem sonhos, de muitas frustrações.

Você não tinha o direito de fazer isso comigo!

Meu amor foi tão verdadeiro, tão intenso, tão profundo...

Não tinha o direito de acabar comigo assim. Não tinha esse direito!

Agora, não quero mais você! Você brincou comigo quando te levei tanto a sério. Por que fez isso? Perdeu alguém que te amava!

Agora não quero nem te ver! Nem por caricaturas.

A cada dia, suas lembranças em mim viram fumaça, se esvanecem...

Ontem, chama ardente, vermelha, brasas vivas...

Hoje, fumaça que cheira mal e por sorte, sobe e desaparece.

Fumaça de cheiro podre, preta, poluída e asfixiante.

Não fico perto nem para ver sumir, se desmanchando no ar, pois nem o vento merece te levar! Mas está levando, coitado do vento que agora suporta você. Mas que leve para bem longe.

Sua presença me enoja, um asco que não suportaria ficar perto.

Sua voz, agora como sons do inferno, como gritos de sofrimento e dor. Não quero ouvir nenhum gemido sequer.

Teu cheiro, como odor forte que entope minhas vias respiratórias, num estado de potrificação insuportável.

Saio de perto imediatamente, mas de mansinho, pois não quero espantar os abutres que estão às espreitas para devorarem seus restos podres, cheios de vermes que entram e saem pelo nariz, boca e ouvidos.

– Abutres, por Deus, sirvam-se logo desse banquete maldito e acabem logo com isso! Comam e sumam daqui para morrerem longe.

Com certeza, pobres criaturas, serão contaminadas e morrerão envenenadas.

Segundos perto de ti, teria que fazer uma lavagem estomacal, tal odor indesejável e presença tão desagradável que nunca senti em toda minha vida. Com certeza, resíduos deixados pelos habitantes do intangível.

Teu cheiro, tua presença, sua lembrança, Odor tão insuportável de enxofre podre, abafado em cavernas malditas do sobrenatural, preparado com elixir satânico feito pelo próprio satanás com planos de destruição.

Que Deus tenha misericórdia da tua pobre alma, se é que você tem.

WILLIAN GILIO
Enviado por WILLIAN GILIO em 09/03/2012
Reeditado em 31/03/2012
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