Pela manhã

O café escuro girando na xícara

Uma manhã qualquer de outono

O sol não nasceu ainda

Talvez esteja cansado

O peso de milênios de idade finalmente cobrando seu preço

Ainda posso ver o canteiro das roseiras

Balançando ao sabor da brisa matinal

Acho que na verdade elas dançaram

Bailavam para o céu que chorava orvalho fresco em silencio

Aquela era uma manhã inigualável

O mundo todo passava sorrindo em frente a minha janela

Garotas novinhas em uniformes escolares

E velhos arqueados arrastando sua melancolia

E sons

Há quantos sons tem as manhas do mundo

Barulhos de serras

Gorgulhos e gaguejares

Motores rugindo

Vozes e risos

O mundo esta gritando sozinho a milhares de anos

Às vezes só às vezes acho que posso ouvilo um pouco

Será que você já o ouviu alguma vez?

Ele deve sentir-se sozinho

Um pobre ancião trancado no escuro

Eu queria estar contigo agora

Há menina poderíamos nos entender bem

Você e eu yin e yang

Eternos e desiguais

Mas não hoje

Nem naquela manhã

Nem nunca mais

Somos um conto de fadas acabado

Morto ao fim da magia

Mas restou a lembrança daquela manhã

Restou-me seu rastro

Era mesmo uma bela manhã.