COMPRA MÚTUA (COEMPÇÃO)

COEMPÇÃO I (Compra em comum) (28/6/06)

De tudo o que me dizes, uma coisa é bem certa:

Passou-se o tempo em que negavas sentimento;

Agora consideras, já pensas no momento

Em que me acolherá, enfim, tua alma deserta.

Ainda hesitas, bem sei, em teu fulgor de esquiva,

É sempre caprichoso o refulgir constante,

Em que o amor te acende e contudo, solapante,

O medo se insinua ao coração, em viva

Inquietação, que te reforça a resistência

E a reforja de novo, oposta à consistência,

Embora quando insista, acabes por voltar...

Que tudo isso de amor, afinal, é calculado,

E todo o pró e contra nas palmas sopesado

Em partidas dobradas, no caixa a planejar...

COEMPÇÃO II (17 DEZ 11)

Pois uma coisa é certa, a mulher sempre planeja

E busca a realidade de tal maquinação;

Por mais que seja pura, existe a precaução

Do cálculo secreto, que a constituir enseja...

Às vezes, nem sequer percebe o que coteja:

Os prós e os contras todos de alguma relação,

As mágoas e alegrias da possível comunhão,

Nuances escondidas no sabor de quando beija...

Mas lá no fundo a mente calcula sem parar,

Até que ponto o amor segurança lhe vai dar,

Até que ponto o amante será bom provedor.

Sopesa em sua peneira de avaliação discreta

E as frases murmuradas no coração coleta,

Iguais cartas marcadas no jogo do fervor.

COEMPÇÃO III

Já o rapaz, em geral, é mais estabanado,

Pois quando se apaixona, não mede as consequências,

Só quer estar com ela, em constantes permanências,

Sem pensar no futuro, igual que espelho alçado...

É como se a olhasse nos olhos, de encantado

E nada percebesse além dessas tendências.

Mostra o espelho o recuo dos passos em cadencias

E esconde totalmente um porvir atribulado.

Mas ela não se importa, planeja pelos dois

E vai tramando os nós, sem mais, devagarinho,

Tal qual a rapsódia que, aos poucos, se constrói.

Pensando nesse ninho que formará depois

De enrolar o namorado em seu dedo mindinho,

Nessa armadilha doce que a resistência rói...

COEMPÇÃO IV

Mas às vezes, ela encontra calculador melhor,

Esse homem que a vida tornou mais experiente

Ou que desde o nascer surgiu malevolente

E cujo ideal somente é ser conquistador...

Assim, ele só finge mostrar igual candor

E aceita-se envolver, fingindo-se inocente,

Consegue o que deseja e afasta-se, insolente,

Pois da batalha breve tornou-se o vencedor...

É então que ela se sente de coração partido

E pode-se afogar num poço de amargura,

Ou tentar se vingar... Ou cair em depressão...

E alguns dizem que a pobre se matou por ter nutrido

Emoção que a avassala, corrupta a alma pura,

Mas morreu por despeito e não pela paixão...

William Lagos
Enviado por William Lagos em 19/03/2012
Código do texto: T3564232
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.