CARTA DE AMOR

Querida,

hoje acordei lá pelas oito e meia,

nem bem abri os olhos e já fui para o quintal

ver como estavam as plantas que você me deu;

Crescem depressa, verdes como musgo molhado,

pequenas flores apareciam de dentro de algumas,

me senti feliz por aguá-las e vê-las tão lindas...

Olhei para o céu e lá estavam as nuvens quase brancas,

um cheiro de chuva no ar, roupas no varal, vento,

me sentei debaixo do abacateiro, apenas olhando...

Me lembrei de quando nos conhecemos, à primeira vista

o amor acontece e nem dá tempo de perceber o que é;

Você sorria de um jeito estranho, pensei que fosse

por eu estar tocando aquela música que fala de coisas

que queremos e às vezes não podemos alcançar,

você vindo em minha direção, meu coração disparou,

uma sensação de ter ido embora de mim, saído,

daí você ocupou o meu lugar, eu era você,

você era eu...

De que valem as datas, o tempo, as horas, os segundos,

quando alguém aparece e muda a nossa direção,

suspende os pés do chão, o azul fica azul de verdade,

um toque e parece um abraço de mar quando estamos

no fundo...

Daí já se sabe que uma estrada vira duas, dois caminhos,

uma mesa com dois pratos, uma cama com dois travesseiros,

um sonho com duas cabeças, o coração fica grande,

parece que um grão de areia é toda a praia,

dá vontade de esquecer para o que viemos e apenas amar,

lavar as mãos da coisas doídas do mundo,

tirar as tinta dos jornais, gritar a todos que o amor

acende o fogo adormecido, a lava do coração escorre

pelos nossos lábios como palavras quentes, vermelhas,

esquecer é lembrar outro tipo de sensação esquecida...

Alguém me chama, vou atender à porta, conversamos;

Estranho é que quando saí lá do quintal e vim para a sala,

não vim sozinho, você veio comigo, aqui dentro de mim,

um lugar que não dá para se medir, um campo onde

plantei todos os sonhos que já sonhamos juntos,

um lugar iluminado onde você estará enquanto eu for

a luz acesa pelo amor.