KALANDIVA

Happy Easter Bunny! Love, Bill.

KALANDIVA I (25 dez 2011)

Cultivo a solidão que me legaste

qual se fosse uma pétala de flor,

como um vasinho em que plantei amor,

cujo botão te levei e rejeitaste.

Cultivo esse desprezo que me deste

em gaiola de cabelos, beija-flor,

mudo cantar zunindo de calor,

que te enviei e nunca recebeste.

Cultivo a indiferença de teu beijo

qual uma imagem de cartão postal,

com seu selo desbotado, no casual

desencontro desgarrado de um ensejo.

KALANDIVA II

Depois cultivo as frases que me dizes,

planto uma a uma, quais pequenas mudas,

uso tutores, pois assim me escudas,

sem que essas frases murchem em deslizes.

Em meu almácego ponho estas mudinhas,

frases verbais, grãos de substantivos,

sementes de advérbio ou adjetivos,

enquanto aguardo que cresçam, filhas minhas.

Que me geraste no ventre dos ouvidos,

com os óvulos dos olhos em leitura,

cada uma delas uma semente pura,

crescendo no meu peito entre gemidos.

KALANDIVA III

E guardo ainda essas fotografias

tiradas pelos olhos, que revisto

de celofanes de caráter misto,

arquivos brandos que em minhalma crias.

Quando te olhei, nas pequenas alegrias,

em cuja rega lentamente insisto,

com gotas de meu sangue, novo cristo,

a redimir as faltas mais vazias...

Cada detalhe recoberto com o orvalho

de meus próprios complicados julgamentos,

num relicário sem quaisquer mementos,

salvo as lembranças de um momento falho.

William Lagos
Enviado por William Lagos em 05/04/2012
Código do texto: T3595126
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