KALANDIVA
Happy Easter Bunny! Love, Bill.
KALANDIVA I (25 dez 2011)
Cultivo a solidão que me legaste
qual se fosse uma pétala de flor,
como um vasinho em que plantei amor,
cujo botão te levei e rejeitaste.
Cultivo esse desprezo que me deste
em gaiola de cabelos, beija-flor,
mudo cantar zunindo de calor,
que te enviei e nunca recebeste.
Cultivo a indiferença de teu beijo
qual uma imagem de cartão postal,
com seu selo desbotado, no casual
desencontro desgarrado de um ensejo.
KALANDIVA II
Depois cultivo as frases que me dizes,
planto uma a uma, quais pequenas mudas,
uso tutores, pois assim me escudas,
sem que essas frases murchem em deslizes.
Em meu almácego ponho estas mudinhas,
frases verbais, grãos de substantivos,
sementes de advérbio ou adjetivos,
enquanto aguardo que cresçam, filhas minhas.
Que me geraste no ventre dos ouvidos,
com os óvulos dos olhos em leitura,
cada uma delas uma semente pura,
crescendo no meu peito entre gemidos.
KALANDIVA III
E guardo ainda essas fotografias
tiradas pelos olhos, que revisto
de celofanes de caráter misto,
arquivos brandos que em minhalma crias.
Quando te olhei, nas pequenas alegrias,
em cuja rega lentamente insisto,
com gotas de meu sangue, novo cristo,
a redimir as faltas mais vazias...
Cada detalhe recoberto com o orvalho
de meus próprios complicados julgamentos,
num relicário sem quaisquer mementos,
salvo as lembranças de um momento falho.