Amar quem Está tão Próximo da Morte

Esta estação do ano podes vê-la

em mim: folhas caindo ou já caídas;

ramos que o frémito do frio gela;

árvore em ruína, aves despedidas.

E podes ver em mim, crepuscular,

o dia que se extingue sobre o poente,

com a noite sem astros a anunciar

o repouso da morte, gradualmente.

Ou podes ver o lume extraordinário,

morrendo do que vive: a claridade,

deitado sobre o leito mortuário

que é a cinza da sua mocidade.

Eis o que torna o teu amor mais forte:

amar quem está tão próximo da morte.

William Shakespeare, in "Sonetos"

Poeta Dom Casmurro
Enviado por Poeta Dom Casmurro em 07/04/2012
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