AMOR DE MORTE

AMOR DE MORTE

O vai e vem da maré

Molhava e não molhava seu pé

Andando pela úmida areia

Pensava em sua sereia

Seu canto tinha sumido

Coberta de terra havia partido

Tudo agora estava emudecido

Nada mais tinha sentido

Olhava as ondas se desfazendo

A espuma a seus pés morrendo

Pensava estar vivendo

Mas pensando nela estava fenecendo

Era noite de lua cheia

Prateando o horizonte

Iria mergulhar naquela salgada fonte

Embebedar-se a mancheia

Subitamente foi adentrando o mar

Salgando todo seu corpo

Doce sensação de se entregar

Transformar-se num anticorpo

Deixou-se levar pela correnteza

Pensou escutar com certeza

Um canto que vinha do fundo

Mergulhou em um segundo

Foi o último cantar ouvido

Também havia partido

Não coberto de terra como sua amada

Somente de água, feliz para o mais nada

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 16/04/2012
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