SE É QUE ME ENTENDES?

Se fulgurante desejo me atrai com jactância o crepúsculo dos teus negros olhos, quando a noite recai como um báratro causando em mim um arroubo de evos, é que hoje sou um fâmulo da tua beleza que me contamina como pústula sem cura.

Se agora sou sequioso da tua majestosa figura, não finjo que estou recalcitrante em ocultar teu epíteto, pois repugno o desdém do teu lado latebroso, e por mais que eu queira refutar esta febre prosaica, não consigo proscrever tua imagem que insiste em refulgir no meu quarto obumbrado.

Se por incomensurável ardor ambicionei desvendar o véu dos teus arcanos, negaste com diáfana veemência tua astre em minhas mãos, trago no âmago o consolo de ainda restar na boca o gosto da flor, a fragrância do perfume, e a essência do vinho.

(29.03.2005)

Semio Soares
Enviado por Semio Soares em 06/02/2007
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