O CASO YOKI: O OUTRO LADO DESSA HISTÓRIA DE AMOR E MORTE.

Eles se amavam como dois imãs opostos.

O que um inspirava, expirava no outro.

Eram reclusos da mesma senzala,

dedos da mesma mão, estalos da mesma fogueira,

cor do mesmo arco-iris.

Não havia um sem o outro,

as veias se contorciam para virar o mesmo cordel,

o mesmo varal, a mesma ladainha.

Dois seres tão distantes, mais aconchegados como se formassem

uima fronha única, um só gole, uma só sombra.

Viviam atracados num mesmo cordel,

velejando no tropegar liberto do suor mais escancarado,

mais cúmplice, mais álibi.

Entre eles não havia reboco, não havia escárnio, não havia rebarba,

não havia encardido.

Duas criaturas irmanadas nos sonhos, nas paisagens, nos motins trigais da alma.

E assim levaram suas carcaças sem medo das marés, sem o torpor embriagante das mazelas endiabradas, sem o véu falido das mundanas podres do cais.

Um tiro íngreme colocou à deriva aquele coração, aquela voz, aquele cheiro quente e suado de vida.

Ela deixou o corpo se calar de vez, ceifando qualquer porta que teimasse em abrir, que relutasse em negar o fim.

A faca fez justiça, retalhando aquele que outrora lhe fizera tão feliz, tão aprendiz, tão querida, tão mãe.

Retalhando os poros que, outrora, fincaram no seu corpo gozos saltimbancos que pareciam nunca mais parar de sorrir.

Retalhando os porões que lhe serviram de abrigo, quando suas marcas teimavam por pedir clemência, numa vã e solitária tragada que entubava seus arlequiins, seus fados, seu trotar engasgado.

Assim o soneto se fez completo, pra todo o sempre.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 10/06/2012
Reeditado em 10/06/2012
Código do texto: T3716573
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