ENCONTRO DAS ÁGUAS
As negras águas do Negro
Se encontram com o Solimões
Assim como os corações
Demoram em criar apego
Lado a lado em direção ao mar
Nas profundezas, o desconhecido
Na superfície, o deleite dos sentidos
A imensidão, na água e no ar.
No encontro, um desenho sem régua
Nos meandros de muitas cores
Formando folhas, galhos e flores
O caboco admira-se e suspira: “Pai d’égua”
O homem racional fica estupefato
O Criador lá do alto está a sorrir
Cálculos humanos não vão descobrir
A complexidade do divino ato.
Assim, a mais nobre criatura
Sente inveja dessa criação maior
Mas sabe que ali também há amor
Como tudo, na natureza pura.
Diante disso o arrogante fica manso
O inteligente revê os seus conceitos
O orgulhoso minimiza seus feitos
Pois todos são parte do remanso.