Contradição
Contradição
“Não se prendam a mim
Para que do meu pescoço não penda
A corda de um Egas Moniz vassalo”.
Maravilhado com a cândida brandura dos olhares
Vou emprestar ao coração o benefício de se deixar tentar
E procurarei no jardim que me fascina
Encontrar a roseira predestinada
Capaz de germinar a rosa preciosa e singular
De espinhos dóceis e perfeitos
Concebida para não me magoar.
Prodigar-lhe-ei carinhos e atenções,
Os que no remoto advento das minhas incursões romanescas
Aprendi a camuflar das quedas no ridículo
Ignorando os conselhos do subconsciente cauteloso
Abrirei de par o varandim do meu peito
E deixando fluir perfumes extravagantes
Desdenharei poder ser este langor alucinante
Delirium-tremens ou febre extasiante.
Aves trinarão nas ramadas desses dias inolvidáveis
E das nuvens só cairão gotas de chuva rosadas
Mas como qualquer sonho
Tido a dormir ou acordado
Um fim espreita paciente
Que arribe o desenlace predeterminado.
Moisés Salgado