Maga

Quando o frio da noite muito escura; e a

madrugada silente se apresenta

a minha alma deseja uma ventura

de ver-me em teu regaço que me esquenta.

Nessas horas meus versos são sofridos

espargindo de mim mil sentimentos,

pois quem manda a saudade em tempos idos

é a Distância, a vilã dos pensamentos.

Tu não sabes da dor que invade o peito,

este peito que te ama, ó minha amada!

Que venera, que clama por esteio,

quando chega a silente madrugada.

Eu me lembro das frases proferidas

como garças voando sobre o rio,

prometendo jamais ter despedidas,

me enchendo de esperança e muito brio.

O sorriso contente que me deste...

E eu me lembro da lágrima pungente:

um contraste que gera em mim a peste

que inflama, que devora a minha mente.

Sinto o licor descendo goela abaixo

contradizendo tudo o que vivi;

e todo o pensamento vira um facho,

apertando-me tanto junto a ti.

Belas fotografias da memória

que esta neblina densa não apaga,

fazem-me acreditar na minha inglória e o

poderio que tens, ó santa maga!

Poderio que tu não sabes tê-lo

na fragrância que tens e esbanja tanto...

Viajo a maciez de teu cabelo,

cada pétala rosa de amaranto.

Cantos noturnos, claros, solitários,

melodia escondida, doce arcano,

a mágoa verossímil dos calvários

que trago no meu peito há muitos anos.

Tu não viste a incruenta e dolorida

ferida neste breu que cerca agora,

mas me acusas de não viver a vida:

como podes ser rude assim, senhora?

Como pôde dizer-me tais perjuras

e fazer-me iludir pela inverdade?

Eu sinto dores acres e não fúrias,

derretendo sem ter a claridade.

E tudo a madrugada traz lembranças

que tivemos momentos tão felizes,

namorados alados e águas mansas...

Agora pense, lembre... E o que me dizes?

Tu dizes que não vejo e não me importo,

que levo os pensamentos para o mar;

isso causa em mim tanto desconforto

nas madrugas que em ti passo a velar.

Este peito que te ama, ó minha amada!

Quer que tu vejas minha desventura,

quando foges assim da minha estrada

me deixando sozinho à noite escura.

28/06/2012 11h48

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 28/06/2012
Reeditado em 22/07/2020
Código do texto: T3749297
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