Crucificada
Das tintas eu crio as cores,
manipulo a sombra e a luz...
Nos pincéis eu sangro as dores
que só a imagem traduz.
De que me servem as flores
e as noites de céus azuis,
se, sempre, por onde fores
o teu rastro me conduz?
Eu não quero teus louvores
pois o céu não me seduz...
Me deixa morrer de amores
pregada na tua cruz.
Quero ser crucificada
sob a luz dos castiçais
até dormir encantada
ouvindo teus madrigais,
Despida, toda pintada
pela lua nos vitrais...
Sobre os teus braços pregada
pra não sair nunca mais.