QUANDO NASCE O AMOR

De que vale ser selvagem na frente de uma horda

Se ele chega e diz que o que vale é ter peito

Para se encontrar na encruzilhada,

Fazer um pacto com a amada,

Nunca ganhar, nunca perder,

Saber tocar o maior dos instrumentos, a vida,

Saber sonhar sem causar nenhum espanto, ferida,

A ira é só um sol que não saiu e que queima por dentro,

A ira vem de um lugar onde nunca se esteve, desconhecido,

De que vale derrubar um prédio,

Que no fim das contas é só um coração cheio de tédio

Pelas contas a pagar?

Existe o topo, o alto, o mais alto dos picos,

Onde o ar quase acaba, pra chegar é preciso conhecer

Cada estrada, curva, desejo, caminho,

É preciso levar o coração dentro de um cofre

Cheio de coragem e de mãos que expulsam espinhos,

Lá, onde o fim espia o começo,

Cada conta espia o tamanho do terço,

Se ergue a vontade absoluta, cada poro ouve, escuta,

Se se crê que amor assim possa existir,

Que tudo se integra sem nada escapar ou sumir,

Então descanse das ervas que se dizem daninhas,

Dê uma chance àquele sentimento que se avizinha,

Algo especial como ver sem ter visto nada,

Algo como saber sem ter aprendido uma palavra,

Tudo é possível quando todas as impossibilidades

Caem por terra e nasce uma miúda e tenra flor

Que todos que a conhecem, e, sem exceção,

Sempre a chamam de Amor.