Quando eu era anjo
Quando eu era anjo,
tinha um par de asas.
Não para o vôo,
para a ascensão do verbo,
para a flutuação da alma.
Eu falava a linguagem dos eleitos
e, louca, era criança
na concepção do amor.
Transpunha meus limites
quando em êxtase tangia
a eternidade dos amantes;
quando tinha o céu nos olhos
e dormia sobre plumas
numa nuvem de algodão.
Quando eu era anjo,
tinha um par de asas,
e o dom do amor;
a divindade passageira
no milagre da unidade.
Partiu-se minha asa esquerda,
a do coração,
o encanto derivou
para a condição humana
dos que existem sem viver
e eu cai da minha nuvem
por não ter sustentação.