AMOR AMIGO
Quem não sentiu um frio na barriga
Ao perceber que a antiga amiga havia
Se transformado num ser maravilhoso,
Com cabelos que, nunca antes sedosos,
Agora escorriam suaves pelo rosto
Que tinha um sorriso nunca suposto,
O andar nem sequer visto e percebido
De um pássaro lindo era agora vôo?
O frio na barriga passa a ser vertigem,
Numa montanha-russa um delicioso looping,
Absoluta falta de vontade de ir trabalhar,
Absoluta vontade de faltar e ficar
Esboçando um convite cheio de intenções,
Nobres desejos, tâmaras, ovas, faisões,
O que comprar para que num passe de mágica
O presente a faça perceber a elástica
Forma de um coração que antes, em amizade,
Contraído e cego não percebia a paisagem?
Enfim é chegada a hora do esperado encontro,
Um perfume secreto ronda e tudo já está pronto,
Entardecer, o sol desmaia e se joga nos braços da noite,
O alaranjado rubro tinge e espanta raios como uma foice
ceifa girassóis, suaves sons suspiram como sinos,
Ele, atarantado, mãos suadas, olhos de menino,
Feito um livro ainda não lido, histórias por contar,
Faz-se nascer feito estrela em constelação solar,
Espera,(porque a espera é a mais cruel das estações),
E dentro pode nascer a flor do amor ou cruéis ilusões...
Você que lê, me conte o resto, diga se se encontraram,
Conte-me se os viu se abraçando, se raios estralaram,
Se essa história teve um fim como tem todo começo:
Solto no espaço, todo novo amor procura um berço.