Bem Sei, Amor, que é Certo o que Receio

Bem sei, Amor, que é certo o que receio;

Mas tu, porque com isso mais te apuras,

De manhoso, mo negas, e mo juras

Nesse teu arco de ouro; e eu te creio.

A mão tenho metida no meu seio,

E não vejo os meus danos às escuras;

Porém porfias tanto e me asseguras,

Que me digo que minto, e que me enleio.

Nem somente consinto neste engano,

Mas inda to agradeço, e a mim me nego

Tudo o que vejo e sinto de meu dano.

Oh poderoso mal a que me entrego!

Que no meio do justo desengano

Me possa inda cegar um moço cego?

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

Luís Vaz de Camões
Enviado por Poeta Dom Casmurro em 03/08/2012
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