Inverno
Traduzir-te? Não posso
não quero, nem decoro.
Tu és um vernáculo intraduzível,
a cada ano um decalque.
És minha parte mais leve,
meu encanto e minha fuga.
Contigo não ligo pra hora, luxo ou ruga.
A alegria mora em ti, as facetas, a ilusão,
a imparcialidade profissional da emoção.
me arrebatas, me consome,
me esquece em opereta.
Somos faces da moeda,
meu poço, minha vereda.
A cada inverno és mais quente, insistente.
Que volúpia!
Espero ardentemente
que esses invernos perdurem
e que deste mal, desta doença
meus sentidos nunca se curem.
Eliane Correia