No dia seguinte...

E no dia seguinte acordou

Olhou-se no espelho

Fez a barba, encarou suas rugas e seu rosto cansado

E no dia seguinte tomou sua condução

Viu as pessoas apressadas demais lá fora

Preocupadas demais, rancorosas demais

E no dia seguinte almoçou na mesma mesa de sempre

Escolheu sua cadeira favorita de todos os dias

Do jeito que sempre fazia

E no dia seguinte sorriu ao final de mais um dia

Esquecendo que não era mais um

E no dia seguinte a cama vazia

A paisagem vazia, a tarde vazia demais

Os sonhos cheios de espaço

A solidão do claustro

E no dia seguinte o abraço faltando

O frio castigando

O peito sangrando

E a fé se esgotando

E no dia seguinte fazia tudo ao seu modo

Como em sua cartilha de vida

E no dia seguinte era só noite

Saltava o resto, sofreria menos

E no dia seguinte...

Esperava sentir falta

Continuava a fazer igual... Acordar e fazer a barba, encarar-se...

E esperava que o espaço também morasse lá

Que no caminho da rotina o destino lhe escapasse e lhe pregasse uma peça

Surpreendesse o sonho igual

Que mudasse a paisagem banal

E que no dia seguinte dançássemos mesmo fora do ritmo, sem passos decorados ou marcados

Mas que fosse a dois... Nós dois, pra mais que o dia seguinte

Mas sem pressa, de ser tudo ou de acabar

Sem tempo pra canção findar ou o verso esgotar

E que no dia seguinte...

Puxasse mais que uma cadeira no jantar

Pedro Hermes
Enviado por Pedro Hermes em 05/08/2012
Reeditado em 06/08/2012
Código do texto: T3815749
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