Eva
Hefesto...
escultor...
ourives...
autótrofo...
eu construí a mulher
que habitava a minha imaginação.
Do vento forte que soprava,
fiz a sua liberdade
(e ela anda nua e descalça por aí).
Do grito da onça,
elaborei as verdades e as mentiras
que ela irá me dizer.
A face serena do lago
eu emoldurei num espelho
para que ela pudesse contemplar sua beleza,
e das flores da margem
roubei o aroma
e borrifei o perfume no seu cabelo.
Com a casca encarnada da maçã,
pintei a cor dos lábios,
e com o sibilar da serpente
compus aquele sorriso
do qual ela se vale para encantar as presas.
Dentre as ilustrações do livro dos pecados,
rabisquei uma tatuagem na pele dela,
e da prata do luar,
cunhei um punhal que ela traz na cintura.
Da íris do gato,
fiz a sua fenda;
do frio de Barbacena,
os seios de bicos farpados;
do cuspe,
o cu.
Só das mãos não falei nada,
porque, agora,
com as minhas elas andam dadas,
a passear na chuva
manauara.