(INVÓLUCRO)
A vida é um misto de tudo isso, e um pouco de nada.
Graciosa, ingênua e fúnebre.
Como a graça sem graça do adeus inesperado.
O estalo e o susto.
Tudo junto.
Um vazio que fica e que preenche a cena.
Ludibrio.
O dia se repete exatamente como outro qualquer.
Mas é novo, e se renova.
Ela mira o horizonte, um olhar perdido em meio à madrugada que, cálida, parte, e auspiciosa, se desfaz em milhares de micropedaços.
Faíscas brilhantes contra um céu todo azul.
E padeço.
O sol exuberante e a terra ínfima que queima, racha e rechaça sob meus pés cansados.
Os passos contrários, a dança e a fé, que cala.
O amanha revolto na demora, e me volto para aquilo que um dia foi eu.
Agora uma mancha nebulosa, um furor, a saudade.
O rascunho que nem sei mais ser, e a demora.
Porque tudo é tempo. É paz, é o agora.
A verdade mergulhada no mais profundo caos, e não entendo mais nada. Ardente, fúnebre e jocosa.
A vida é um misto de tudo isso, e um pouco de nada.
O grande todo grande me sorrindo da janela, e o peito em agonia que chora.
A ansiedade, a espera e a demora, que bate, rebate e depois volta.