Amores Unidos. Acaso?

Eu errei. Errei muito, errei feio. Vou continuar errando, visto que não sou uma máquina perfeita, pelo contrário, longe disso. Se máquina fosse, não sentiria arrependimento. Se máquina fosse, não sentiria nada. Não teria um passado com história, um presente incerto e um futuro com alguma expectativa. Iria padecer de qualquer coisa que me deixasse inoperante e seria lixo tecnológico. Mas eu, eu não. Não quero dizer que sou uma fortaleza impenetrável que não possa ser destruída de dentro pra fora. Eu posso. Eu sou. Eu estava.

Eu merecia. Aliás, não sei se você sabe, se já te disseram, mas eu errei. Por isso digo que merecia. Todo mundo erra. Ás vezes mais, às vezes menos, às vezes comete uma falta irrelevante, às vezes se sentencia cometendo um erro que pode desmoronar um sentimento inteiro contra o chão. Eu percebi o tamanho do erro logo ali no dia seguinte. Raciocinei, escrevi, mas não foi o suficiente. Afinal, eu havia te machucado. Sem perceber, eu me machuquei. Que nem quando a gente se corta com papel. Na hora não sente, mas dali algum tempo é a dor mais excruciante que pode vir de um acidente contra nós mesmos.

Algum tempo passou. Alguma água rolou por debaixo da ponte. Sem mover moinho algum. Estávamos emperrados, você fingia que estava tudo bem e eu me disfarçava através de máscaras pras pessoas com quem eu me encontrava. Por dentro, estavam dilacerando meu coração com papel sulfite. Eu estava fazendo isso em mim mesmo. E você também, em si.

Reconheço a dor. Reconheço o engano. Reconheço o que você quiser. Mais ainda, reconheço que ainda te quero. Não é mera carência, pois se fosse, eu poderia me resolver com qualquer uma. Mas não. Eu quero o seu sorriso, os seus olhos, as suas bochechas e as nossas tardes que nem duas crianças passeando pelo shopping e comendo lanches furiosos. Eu quero os seus dramas, assim como suponho que você queira as minhas nerdices. Poderia passar a noite narrando do que eu sinto falta de você e da gente, mas não vim aqui pra isso.

Vim pra pegar os tijolos de nosso império que eu fiz questão de demolir. Convenhamos que não fora muito bem estruturado. Peça por peça eu preciso de você comigo colocando cada uma no lugar, no seu devido tempo. Como se fosse a primeira vez, de novo. Cobiço uma nova paixão. Regar o nosso jardim que ficou durante meses sem ver uma gota d‘água de amor recíproco. Adubar com mensagens na madrugada e podando com poemetes ruins que só eu consigo escrever, mas te juro que são de coração.