Lúcida

Lembro da manhã cheirando a pasta de dente e a perfume de lavanda, do trânsito confuso e dos seus palavrões fracos que viravam gargalhadas gostosas.

Lembro das conversas no estacionamento, das conversas vãs, das conversas sobre um futuro bom. lembro das promessas.

Lembro da música na rádio, lembro dos cabelos na minha mão. Lembro do teu uniforme (que te cai muito bem), lembro da minha desorientação, de você me chamando a atenção.

Lembro da buzina irritada dos outros, lembro do café da manhã.

Lembro do rapaz tomando conta dos carros.

Lembro do sofá, do café, da torrada, do beijo.

Lembro da almofada do Mickey. Do tempo.

Lembro da surpresa, das mudanças de plano, dos desencontros, dos choros.

Lembro dos dois meses.

Lembro da caixa de correio, lembro do telefonema, de você me mandando ir embora e me trazendo de volta.

Aos pouquinhos fui colhendo dessa rua toda ternura que ela guardou pra mim e juntei todo esse pouquinho no fundo da minha memória.

Lembro de tudo. Numa confusão de imagens, de sons. Numa teia de gosto, de toques.

Lembro da gente feliz na fração de segundos, na poeira dos minutos e nas cinzas das horas.

Eu lembro de tudo.

Helena de Castro
Enviado por Helena de Castro em 13/09/2012
Reeditado em 13/09/2012
Código do texto: T3880744
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