À beira-amar

Necessária e anônima, essa mulher

lateja inerme dentro de sua água.

A vida ávida viola ventos,

atravessa grossas artérias

até o oceano.

E em seu leito líquido, rio breve,

a nau do amor sobrevive ao gesto,

à sede da água sem ponte

e sem porto.

A noite desliza. Desliza

e geme como planeta

seu corpo de naufrágio

e dialeto.

A saudade tenho por aljava,

trago poemas para com eles

atingir sua epiderme,

molhar sua fragrância,

ativar glândulas,

sangrar pelas praias

sua onipotência.

Vem a música e, de longe,

danifica a paisagem.

Antigas folhas sobem à superfície,

revelando o outono.

O passado como uma rosa flutua.

As águas são também espelhos.

Os rostos se repetem, se repete

o amor. Nada recusa ou aprisiona.

Negá-lo por quê? Por quanto tempo?

A lágrima pode invadir os olhos,

despertar o homem no menino.

Entre escrever e amar

prefiro minha pena,

encerrar a poesia numa página

e a banir de mim,

e na parede ao canto arremessá-la com devoção.

Kissyan Castro
Enviado por Kissyan Castro em 27/09/2012
Código do texto: T3904126
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