Ponto Final (?)

O que fazer quando tudo foi feito?

O que amar quando todo amor foi pouco?

Esse aperto enviesado no peito

Essa loucura de me deixar quase louco...

O que dizer quando tudo já foi dito

e no ínterim do amor que aflorava

vi a flor nascer, como um grito

que nasce de uma garganta cortada

O que esperar do imperceptível dolo

presente de tanto não o querer

destoldado no inútil consolo

de achar que amar não é sofrer

E quando o coração digressiona

fingindo não sentir o que não sente

é a dor do amor que vive, e o abandona

covarde como sol que nega o poente

Se todo amor do mundo não bastou

se unir todo o universo foi em vão

meu coração toou, e destoou

na porfia de te amar assim, mas não

Não emprego a dor no peito, lacerado

marcado à gusa do seu abandono

amar-te sempre ei, já foi falado

mas tu destituístes nosso trono

Se tudo que hoje sou já não lhe basta

só posso esperar que um dia acordes

resgates meu amor jogado à casta

do mais pobre amor entre os pobres

Só fica então a mágoa de enxergar

que a única coisa nessa vida

que me parecia forte e definitiva

dia a dia a se exacerbar

a deixar aqui aberta uma ferida

desesperança laica e furtiva

O meu amor, construí em base sólida

na têmpera de riso e lealdade

na cumplicidade que duas almas permeia

mas o teu ficou na dor bucólica

de saber, que ainda que verdade

era mero castelo de areia....