Poema de ontem

Eu chegaria atrasado

Carregando minha sacola

Minhas roupas velhas e sem cor

Em ombros tão cansados

Tão exaustos dessa sede e fome

Fui teu último a chegar

Pousar calmamente, levemente

Contrariando o Pragmático que me plantou inquieto

Quis lentamente e não mais num único gole, numa dose

Quis nas migalhas até o transbordar do prato

Ao apagar das luzes

Mas só pra no escuro ser

O beijo doce nunca beijado

Nem abraço jamais abraçado

Me atiraria ao lado teu

Em vestes tão surradas

E merecedor de tão pouco amor

Um maltrapilho dos versos enviesados

Inclinados à linda Flor

Entregaria todos eles ao peito dela

Com deslizes e a profundidade que lhes cabem

Tão calado, mudo e amordaçado

Declararia aos gritos o que todos sabem

Tal querer de amor humano e torto

Feito estas linhas enladeiradas

Feito o ponto tênue do amor nunca amado

E não sei se acharás atrasado também amor

Antiquado feito as rosas que lhes chegam

É que no tempo me perdi

Amando-te sem mesmo antever os olhos teus

Feito poeta que escreve e atira ao mar...

Mas ninguém lê

Pedro Hermes
Enviado por Pedro Hermes em 09/10/2012
Reeditado em 09/10/2012
Código do texto: T3923227
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