Miosótis

Até ontem eu estava triste
E com inveja dos outros
Porque aqui onde vivo
Não tinha nenhum morto
Para quem oferecer uma Flor
Também morta.

Porém hoje além de triste sinto-me arrasado
Abriu-se de uma cova a porta
E desde o fundo uma voz desesperada
Gritou: "Tragas rápido para nós uma Flor
Sou eu que aqui estou, o teu Companheiro Amor.

Deite-se comigo, meu Amigo, que a cama já está quente
Aproveitemos esta mesma data e sepultura
E aceitemos a nossa morte
Já que é para isso que vivemos.

Porque aquela incompreensível criatura
É muito frágil e demasiadamente pura
Não sobreviveria a mim tão rigoroso
E nem a ti tão quente e cuidadoso.

Vamos dividir a cova e o Miosótis azul
Aldo Roberto!
É que ela habita o meio entre nós e o Norte
E jogou fora a sorte
De vencer a solitária morte
Vivendo Feliz
Conosco no Sul...

E nos contentemos
Com a decisão dela
Agora a cuidaremos
Em cada rua ou viela
Onde Ela andar.

E se um dia lembrar
De que morremos
Pela sua ausência
Que ela acenda uma vela
Não para nós que sentimos
E por isto partimos

Que acenda pra Ela
Que fica aqui
Só pensando em si.

Que nós por maiores as dores
Nos daremos às Flores
Não como defuntos que as recebem insinceras
Neste Dia de Finados
Em que muitos são autosepultados

Ja sabes, a acada vez que somos renegados
Enterramos as esperas
E voamos dali
E se for preciso ao longo das eras
Nós dois somos das feras

Como um Colibri..."




































Aldo Urruth
Enviado por Aldo Urruth em 02/11/2012
Reeditado em 02/11/2012
Código do texto: T3965383
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