Branca falência

Rubros, teus desejos gotejam...

falem os dedos, os braços, os olhos,

assim, caídos teus sonhos almejam

serem lírios para os teus velórios...

Não ponhas em suspenso tua própria existência[

mergulhada em melódica quietude...

És um pássaro numa altiva falência

preso num espectral ataúde!

Como um pássaro manténs tuas pupilas atentas

em vigílias, em mistérios e dores.

és a sacerdotisa de belezas nevoentas

Ó graciosa estátua de brancas flores...

Os lábios frios, ressequidos,

cansados da vã mortalidade

tentam desenhar palavras, gemidos

coisas não vulneráveis à Frialdade.

Doi-te a visão de um vagar sombrio

ao passo em que tosses, suas,

as gotas caem no chão frio,

em vez de volúpia, o Medo roça tuas costas nuas...

Assim, morta antes mesmo de morrer

representas o etéreo desfalecimento,

teus olhos, assim como teu ser

são o eco da beleza e do sofrimento...

Tremes, a imagem tua[

docemente magoada

se distancia, qual falua

velejando, às cegas, a madrugada...

Calma estrela, não adoeças...

as estrelas, os deuses, e seus filhos

à noite inclinam as próprias cabeças:

no céu há somente os teus brilhos!

16/5/2006

ralv
Enviado por ralv em 28/02/2007
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