metrônomo cardíaco

bailamos uma valsa

beliscando os tacos do chão

uma valsa lenta

que escorre nos meus lábios

num sabor de corpo teu

uma valsa, muda

sapateares nos ares

descalços nas paredes

somos aranhas vorazes

tecendo fios e redes

valsa de teias…fios

teias de fios e valsa

e descargas elétricas

e casas e lâmpadas

e o mundo todo escuro

e a musica continua

tocando surdamente

arrebentando nossos tímpanos!

Chopin brilhante…Valsa Brilhante

as luzes queimam cegas: Noturno!

uma orquestra ávida, furiosa

e os vizinhos nem desconfiam!

esqueceram o fogo aceso

o aquecedor e o chuveiro

a casa queima, o quarto escorre

guia-me, tua mão, eu guio-te

ou é teu cabelo, ou é teu corpo todo

ou é apenas teu cheiro…ah! teu cheiro, silencioso!

oh! Villa Lobos! toque para nós!

risquemos os pisos de madeira

arrastemos os móveis

quebremos os pratos

espatifemos os copos

só eu seu teu nome

apenas tu sabes o meu!

e guardamos esse segredo…baixinho

nem ao pé d’ouvido a gente se diz

camuflados, somos invisíveis

não nos vêm, não nos ouvem

não nos sabem, não – ninguém!

nunca saberão nossos nomes, nunca!

chamamo-nos num suspiro gritante:

Amor!

Vinicius de Andrade
Enviado por Vinicius de Andrade em 12/11/2012
Código do texto: T3981747
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