metrônomo cardíaco
bailamos uma valsa
beliscando os tacos do chão
uma valsa lenta
que escorre nos meus lábios
num sabor de corpo teu
uma valsa, muda
sapateares nos ares
descalços nas paredes
somos aranhas vorazes
tecendo fios e redes
valsa de teias…fios
teias de fios e valsa
e descargas elétricas
e casas e lâmpadas
e o mundo todo escuro
e a musica continua
tocando surdamente
arrebentando nossos tímpanos!
Chopin brilhante…Valsa Brilhante
as luzes queimam cegas: Noturno!
uma orquestra ávida, furiosa
e os vizinhos nem desconfiam!
esqueceram o fogo aceso
o aquecedor e o chuveiro
a casa queima, o quarto escorre
guia-me, tua mão, eu guio-te
ou é teu cabelo, ou é teu corpo todo
ou é apenas teu cheiro…ah! teu cheiro, silencioso!
oh! Villa Lobos! toque para nós!
risquemos os pisos de madeira
arrastemos os móveis
quebremos os pratos
espatifemos os copos
só eu seu teu nome
apenas tu sabes o meu!
e guardamos esse segredo…baixinho
nem ao pé d’ouvido a gente se diz
camuflados, somos invisíveis
não nos vêm, não nos ouvem
não nos sabem, não – ninguém!
nunca saberão nossos nomes, nunca!
chamamo-nos num suspiro gritante:
Amor!