Antídoto
O que me resta, senão declamar vida a fora o meu amor por ti,
Recolher finas membranas que flui cotidianamente do meu afeto
Para nelas escrever em versos o suplício de m'alma.
Nesses versos se um dia o meu bem-querer se debruçar e ler
Saberá que meu amor não é ficção
Que mesmo não conhecendo tuas mazelas,
Ainda assim sou capaz de amar
E que tão longe de ser mera admiração,
É amor genuíno,
É um límpido olho d'agua que surge sem se anunciar
Só os seres do mundo invisível
Sabem as dores e gemidos que regurgitam do meu ignorado âmago
E os hálitos fermentados de minhas entranhas,
Em combustão visceral segue minha matéria,
À espera da decomposição final.
Este amor não é utopia, nem mera fantasia,
É um ser real,
Uma pessoa distinta, com todos os itens que existem em todo indivíduo,
Este, anulado e encarcerado,
Num peito gélido e moribundo,
Que embora em dias modernos,
Pouco a pouco desvanece,
Pois o antídoto para este é tua saliva, é o teu beijo
E a ausência destes é o meu mal.