No silêncio de noites insones (e em ruidosos dias insanos)

Não há jamais silêncio em noites insones.

Todas elas sangram nossos ouvidos

com ruidosas memórias de amores inacabados.

A saudade é um lacrimoso oceano

a separar duas ilhas de desejo.

Algumas luas atrás,

o vento soprou-me aos teus vizinhos mares

e meu pensamento deu direção à nau perdida:

vaguei por tuas praias,

uma errante peregrinação

em busca de um falso acaso.

Cronos continuava reinando e retorcendo

o desacerto das horas.

Minha nau,

novamente nas águas da saudade,

é um barco de velas costuradas

pelos fios da lembrança,

com que retorno à solidão da ilha.

Mas o teu poema,

mágica mensagem jogada ao mar,

reluz no véu negro da tua ausência sentida,

como um farol para os meus desejos,

ou carta náutica dos teus.

Teu poema é um astrolábio,

uma guia para o Mestre

se lançar às ondas revoltas da paixão.

Nas vagas desses mares,

timoneiro surdo das ruidosas lembranças,

troco os cantos das Sereias

pelos saudosos encantos da Bacante.

E agradeço ao choro da Poetisa,

que afogou Cronos em tuas insanas lágrimas,

distorcendo o tempo,

que parecia estar parado

desde aquele teu último beijo.

Joga, Bacante, outra garrafa ao mar!

Faça do vinho

a tinta dos teus versos!

Faça na taça

a trança das ondas!

Vai-e-vem escarlate dos desejos,

que empurram teus versos

até o mar da minha saudade...

Mestre Dissoluto
Enviado por Rita Venâncio em 20/11/2012
Código do texto: T3995018
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