Memórias de uma Canarinha
Um dia, eu vi um Pássaro...
Um lindo Sabiá.
Cantava sem compasso,
mas eu o escutava
com toda devoção...
Para todos era feio...
mas eu o via lindo!
Ninguém gostava dele
e eu o adorava...
Suas penas eram ralas,
porém eu o enxergava
perfeito e emplumado!
Sua voz era comum,
contudo eu o ouvia
feliz e enternecida!
Vivia em solidão...
Pensava ser sozinho,
mas eu o conservava
dentro do coração!
Seu canto era de ódio...
Para mim era de amor!
Seu bico era obtuso
e eu o via em retidão!
Os outros sabiás eram elogiados...
mas eu elogiava só o meu Sabiá!
Os outros comentavam:
"como ele canta mal"...
Porém eu o endeusava:
"é o melhor cantor"!
Um dia, todo mundo
falava alegremente:
"Felizardo, ele achou
a vida em plenitude"...
Mas eu, a Canarinha,
comentei simplesmente:
"Pobrezinho,jogaram-no
em negra sepultura"...
(em 23/06/67)