Ele e o mar
Eis-me frente a ti, fitando-te perdida em pensamentos
Amando sua beleza, que de belo, és tão horrendo
Em seus mistérios e além teu manto negro
Em profundezas não te medes, vias além do tempo
Qual minh'alma chama-me, chamo-te louco
Se na calmaria vens suavemente beijar a praia
Em fúria atroz, dela tu, tudo arrasa
Te observo quieta, triste, vislumbrada o pranto
Que derramas em escumas sobre a solitária areia branca
E vens molhar-me os pés, em forma de carícias
Porque sabes, amo-o como tu, a praia também amas
Vendo-te assim, lança-lhe a lua o seu manto prateado
Dando-te azul imenso, como dá o céu ao firmamento
E nada acontecendo, ouço teu esbravejar ao vento
E o uivar insano, de quem morte trás por dentro
E te lanças, furiosamente cruel, em delírios sobre ela
Arrebentando-te entre as pedras, posso ouvir
Os teus gemidos ... não te calas ...
E quando te acalmas, desta fúria insana, que te abrange o peito
Posso contemplar-te junto à ele, voltados para mim serenamente
Vejo então, nos mistérios das suas profundezas e, na luz dos olhos dele
Toda a beleza e todo amor, criados por um Deus Onipotente.