INFERNO

Quando meu amor lava o cabelo

A negra deixa-me em transe;

É tanto produto no ritual,

Tanta essência escorre

Daquela cascata resistente.

Ao final sou a oferenda

Para a deusa que ela evoca.

Desde as raízes capilares da sua história, 

Da sua fé nas gerações...

A piastra importa a lembrança do ferro quente 

Que marcou, aprisionou e aqueceu a gente; 

Desliza-o no pelo, quizombando,

Quando na pele, antes, ardia.

Era um inferno.

Quando minha negra lava o cabelo

É um dia perdido?

– Que ódio?

– Oh! dia divino! 

– Oh! dia eterno!

Publicado em Cadernos Negros 35,Quilombhoje, São Paulo,2012

Página 104

Luís Aseokaynha
Enviado por Luís Aseokaynha em 16/12/2012
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