HOJE ESTOU SÓ

Hoje estou só.

Meu amor pegou um barco

e foi para o lado esquerdo do rio.

Lembrou de coisas

do mês de abril

e teve um medo cortante de mim.

Hoje estou só.

Aproveito e leio

os meus amados poetas.

Deixo a luz entrar

e as janelas abertas

me mostram a cidade

na qual não estou.

Ela bebeu o líquido

guardado na garrafa do medo.

Acordou muito cedo

e saiu.

Não disse se voltaria,

se hoje, se em abril.

Disse que já não sabia

se era amor,

se era rotina,

o que sente por mim.

E eu fiquei só.

A solidão não me aflige.

Aflige-me a cegueira

com que conduzo a vida.

As palavras que não digo,

o amor que encubro,

amor pulsante e rubro,

mas calado, cansado:

isso é o que me aflige,

estar junto dela

e estar só.

Hoje estou só

de um estar só literal.

Não vejo seus olhos,

não sinto o seu cheiro

e a cor de seu cabelo

não enfeita a paisagem.

Se ela voltará?

Só posso dizer

sei lá.

Talvez eu me liberte

quando começar a chorar.

Deodato
Enviado por Deodato em 08/03/2007
Reeditado em 08/03/2007
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