Porque és tu a faúlha incendiária...

Porque és tu a faúlha incendiária,

a ponta penetrante de um cometa

projectada no Oceano líquido d'azul a borbulhar,

no virar de cada espumada volta de Mar,

no restolhar de cada ressequida folha

no botão de Dália em cada ano reflorescida,

o Vento pára, consente e se volatiliza.

Ou, voraz, acende a acendalha esquiva

no lume de um olhar atento

de uma intemporal madrugada altiva.

Acendalha viva!

(Do ventre urgente de sermos somente Gente.)

Seiva escorrida, se matiza no anil dos dias

e no vermelho quente das horas...

E porque és tu a

agitar-te na avidez do meu corpo

ele sem reserva se abre em cálix,

corola flor e te abarca, te envolve da pele ao dorso...

Jaguar errático e faminto, num abraço,

na brisa e no vento deste Deserto da Vida,

convertido em adensada, frondosa floresta,

revestida nos sons e tons de Primavera florida.

Luminescência, prelúdio de ária encantada...

Que das tuas mão de chuva, escorridas,

gotas de sal e suor – p’los poros exaltados -,

são em nós o elixir do Paraíso adivinhado

nas longitudes demarcadas e no traçado do meu corpo.

Linhas singelas e finas, esboçadas

pelo esvoaçar de umas asas alongadas ao Infinito ...

(Solta-se na boca, de nós o grito!)

Manto-corpo ...Tecido palco sagrado de um Mundo

antigo ... (re)conhecido.

E os nossos cabelos fundidos são eles mesmos

ondulados diagramas e diademas

na composição de poemas ...

Porque és tu, apenas tu, a raiz da árvore que me habita...

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 10/03/2007
Reeditado em 16/03/2007
Código do texto: T407671
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