Navegaste o pranto dos meus olhos …

Embocaste pela boca aberta do meu pranto,

num ponto preciso do estofo da maré. Marinheiro

reconhecido na arte de bolinar, navegaste o lamento

pungente dos meus olhos e neles colocaste uma a uma

Primulas, Violas, Begónias, num plantio desmedido

de boninas, de flores, na arte de replantar “Amores!”.

Lavas de lume emergiam da crosta incandescente.

Não temeste. Falavam de um tempo em que a Alma

em chaga, sem que disso tivesse dado alerta a meteorologia,

entrara abruptamente em erupção.

Destemido Marinheiro, buscaste na cana do leme, direcção.

Acreditaste que lá em baixo, na sua porta, o metal sulcaria

o pranto em mansas vagas derivadas. Aplanadas…

À carlinga fixaste o mastro onde içaste a bandeira da Paz.

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É manhã!

A luz escorre agora. É leite derramado na Noite que morre.

Hoje eu sei que o que escrevo não mais é que o acordar

de um Sonho prematuramente adormecido no reponto da maré…

Fecho os olhos! Sob a claridade pálida da fugidia Lua,

a linfa ondula. Sobre a areia as gaivotas desenham-se

em orgânicas danças. Em espasmos, atingem o orgasmo.

De braços abertos encenam cânticos nupciais.

Tudo é bucólico, tudo é simbólico, no reino dos animais!

Navegaste o pranto dos meus olhos …

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 11/03/2007
Código do texto: T408966
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