Sibilam pedras na encosta

Sibilam pedras na encosta quando a noite vermelha

se anuncia desnuda de sentido.

Quando a Alma insana vareja entre a plana Planície

e a árida bainha marítima.

E as vozes dos gestos detonados nos rumorejam

a força intempestiva do desejo.

Num jogo de espelhos envelhecidos - a ponto sombra e

a ponto luz -, a cidade adormecida antes de nós,

reabilita-se no oiro bruxuleante de candeeiros antigos.

No Cais de onde não partem ou chegam barcos,

elevam-se nos mudos bicos das Gaivotas, dores, gritos...

Ondulam-se na Planície os Sobreiros e aqui na orla,

seculares Palmeiras. Corvos coreógrafos encenam

novas coreografias em madrugadas infinitas,

para além do que a vista alcança. Voláteis danças.

Sibilam pedras, rolam destemidas na encosta,

afundam-se em quedas abissais. Rebolam bojudas

em prantos ausentes de fragrâncias.

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 12/03/2007
Código do texto: T409680
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