SÚPLICA À MUSA...
Musa, será talvez a última,
a última Poesia que escrevo...
Quero que tenha o derradeiro
sentido do adeus...
Quero que seja a última palavra,
a última lástima, a última vez
que amarei na vida...
Meu adeus, talvez,
seja um adeus continuado...
Que atravessa anos, meses, dias...
Minutos, segundos...
Mas eu quero dizer isso: adeus.
Quero que minha poesia transcenda.
Quero que se transforme num leve,
suave adeus ao amor...
Daqui prá frente,
a alma poetisa morrerá...
E, morrendo o verso,
é preciso que o Amor o acompanhe.
É preciso me despedir de ti,Musa querida,
que me ouviu cantar de alegria
e me contemplou chorando de tristeza.
Tu, que sempre ficaste comigo.
Tu, que nunca me abandonaste.
Tu, que foste a única testemunha
do meu amor amargurado,
impossível na Terra e no Céu...
Tu, que me deste ânimo...
Tu, que me compreendeste.
Tu, que me ouviste.
Tu, que compartilhaste comigo
das tristezas e dos sorrisos...
A ti, Musa querida,
para que não te apartes nunca,
apesar do meu adeus,
fica esta súplica: vem comigo.
Se a voz do coração poeta se amortecer,
se a dor da alma aflita quiser te despedir,
Não ligues, fica comigo...
Porque se tu partires,
nada restará de mim...
(26/06/1968)