Voltei a olhar-me

Quantos anos já são passados

dos desejos velhos, enterrados

na inclosão de tantas desilusões.

Quanto tempo teria levado

para que um arco-íris surgisse

nos céus dos meus apelos

e uma nova flor se abrisse

no vaso trincado das minhas emoções.

Sabe que não temo

abrir as páginas do meu passado

e dar de cara com um eu estraçalhado?

Talvez hoje eu até sorria

do lodo que me perseguia.

Talvez hoje eu até agradeça

a oportunidade de conhecer infâmias,

de sentir na pele a angústia das injustiças

e o arame farpado da traição.

Talvez até eu sorria

das alegrias que me foram negadas,

das minhas ânsias bloqueadas,

das minhas artes truncadas,

de tantos anos de doação

que pensei serem trocados por nada.

Talvez hoje eu até me divirta

com as lembranças

das lanças

da tua ingratidão,

do veneno

da tua encenação,

da mesquinez

dos teus furtos calculados

e do uso das tuas deficiências

para comprar o apoio que nunca tiveste.

Talvez eu agora esteja calculando

o tamanho do rombo que não enxergas

e que compraste para tua vida.

Talvez eu sinta, como todos,

uma vontade imensa de te dizer:

Tenho pena de ti!

SP, 01/08/2005

12:40 horas

Cleide Canton
Enviado por Cleide Canton em 09/08/2005
Código do texto: T41430