Segredos da Lua
A lua betumada, no teto dos meus lugares de amar, sussurra mistério em seu perdido falar. “De onde vem sua amada, que tomas e que se retira, e aonde vai que não a segues pelos caminhos da vida ou da morte, aceitando-a como seda, e cobrindo-a de jazigos, quando pela manhã se esconde sem dizer adeus?”
Todos os mares bramariam a auscultar tua infinda partida, mas o vento é teu sangue que em mim sopra, que leva os rios, que persegue as brisas à noite, que deixa ali regiões de baixa pressão.
Estava ali.
Os sons se confundiam em minha mente.
Sentia um odor forte e ouvia vozes que se dispersavam.
Eram as vozes do teu canto alegre, que voava pela floresta em meu quarto, e a natureza que se me apaixonava, e eu que quase me morria nas cachoeiras e nos lagos do teu amor.
O luar, o engolirá as tristes saudades, e ainda que saiba os segredos da vida (e da morte), sou eu quem rutila, dardeja e clareia suas sombras, e suas penumbras que não existem nos meus horizontes; apenas nos vértices, onde fogem seu louvor.
Sua vida é a morte e não seria, - ou até pode não ser - pois nunca expirou o desejo, nem brotou nela o surgir incipiente nos olhares tênues das parteiras, de mães e de horrores sem fim.
Ah! Luares apaixonados! Dividirei convosco o que sinto por ela, não tenhais medo que protestes vossos beijos, pois a menina perdeu-se novamente nas estrelas, nas nuvens, nos lares perdidos da noite, nos amores insólitos dos homens, na pureza casta e maliciosa da sua inocência.
Quando te ouvir nos jardins, nos bálsamos, na fragrância das flores, nas intempestivas chuvas de verão.
Quando escutar o teu choro baixinho, teus olhos de primavera, teu ruflar, teu ruflar...
Te direi como te amo e tal qual te vejo, na brancura inocente do teu ardor.
Ainda que os cemitérios te almejem, gritarei pela tua ausência, e em mim teu suor inocência, que os olhos outros não podem enxergar.
Meu pecado e meu engano, amoral e desejo profano, não é tal qual teu doce falar.
Há verdade em tuas verdades, pois não conheces as regras do mundo.
Eu te perdôo e te abençôo. Quando voltarás?
Ouço de longe o som de gaivotas soturnas, de pombas diurnas, de corvos, abutres e urubus.
Mas, à calada da noite sinistra, teus mistérios me são confiados e eu prometo, faço votos, juras de eterno amor.
Então ouço de uma águia peregrina e desabrigada, nos lúgubres, cimérios asseios da Terra esmerada, um ecoar singelo e voraz. E grito numa alegria incontida, a quem me ouve, a quem quiser ouvir: “Voltou minha amada. Minha amada voltou”.